sábado, 21 de julho de 2012

O Mau Uso da Língua

A língua não tem osso; daí vem o abuso que dela faze.
Fala-se por necessidade, por hábito, por vontade.
Fala-se por convicção ou por ignorância; com sinceridade ou má fé; como homem ou papagaio; racional ou brutalmente. Fala-se sempre.


Para certa gente, deixar de falar seria martírio.
Sentir a língua dentro da boca e não mexer com ela, ou mexer com ela e não fazer barulho... que desapontamento horrível para um tagarela de profissão, que faz da língua seu alimento, a sua distração, a sua companhia!
Há por aí línguas mais salgadas do que as que o próprio sal; Mais afiadas do que navalha; mal movediças que cata-vento; mais daninhas que ninhadas de rato em despensa bem sortida.

O elefante tem a tromba, o boi chifres, lobo dentes, a pantera garras, a víbora o veneno, mas o homem tem a língua para se defender melhor.
A língua, que serve para cantar as alegrias e fazer ouvir os acentos de dor, é muitas vezes pregoeira das fraquezas alheias, e quase sempre imprudente reveladora do que devia ficar oculto, origem de intrigas, discórdias que vêm trazer resultados quase sempre funestos.

A língua do sábio tem o cunho da sabedoria. A língua do ignorante tem a volubilidade da língua caturrita. A primeira move-se pouco para dizer muito, a segunda move-se muito para dizer nada.
Uma é afirmação da verdade de que a outra é a negação.
Há línguas de "ouro", de "prata", e até de "trapo"! Destas a abundância é ainda maior.

Falar, falar e falar sempre são a questão do dia.
Fala-se na igreja, em público, em particular, às claras, às escondidas. Fala-se verdade, mentira, de Deus, dos homens, de todos, de tudo!
Chova ou vente, haja sol ou sombra, a língua gira na boca como uma roda gira eixo. Ninguém escapa à apreciação do homem sensato ou à tesoura de qualquer refinado maldizente.
O que vestimos, o que comemos, o que fomos, o que somos e o que seremos... se engordamos ou emagrecemos, se somos alegues ou tristes, bons ou maus, felizes ou desgraçados, a língua de uma dos mais parladores se incumbe de discutir e esmerilhar com zelo e a atenção que o caso pede.

Não é raro ver-se um magricela que parece gafanhoto, censurando a magreza de outro, um caolho criticando o cego, ou um idiota a falar pelo nariz contra as misérias do próximo.

Primeiro lugar em um concurso de redações promovido por um grande jornal de Minas Gerais - Belo Horizonte.

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