Nos tempos bíblicos do Antigo Testamento, muitas relações eram estabelecidas com base em um pacto. As relações às quais me refiro são, por exemplo, relações tribais, que aconteciam entre grupos de pessoas e suas famílias e eram estabelecidas com os líderes das tribos. Os casamentos também eram firmados em forma de pacto. Um pacto, de acordo com a Bíblia, pode ser entendido como uma aliança, mas não um contrato.
Veja, por exemplo, que as nossas Bíblias têm Antigo e Novo Testamentos. “Testamento” é uma palavra sinônima de “aliança”. Jesus, quando celebrou a primeira Santa Ceia, mencionou isso. Veja como funciona.
Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês”. (Lucas 22.20)
Essa aliança que Jesus fez foi o novo pacto em seu próprio sangue. Dessa forma, as alianças ou pactos de acordo com o que a Bíblia ensina diferem dos contratos que conhecemos hoje. Os contratos também são acordos entre as partes, mas eles têm cláusulas que preveem penalizações ou multas em caso de descumprimento; em outras palavras, os contratos podem ser quebrados desde que observadas as obrigações legais de cada parte.
Já as alianças ou pactos não trazem essa característica. O pacto, é estabelecido com Deus e perante Deus, portanto, não tem fim e só pode ser encerrado com a morte de uma das partes. Por isso Paulo escreve em 1Corintios 7.39:
A mulher está ligada a seu marido enquanto ele viver. Mas, se o seu marido morrer, ela estará livre para se casar com quem quiser, contanto que ele pertença ao Senhor.
Vamos, portanto, entender as características do casamento na perspectiva correta: a perspectiva de Deus e da Bíblia.
Quais são as implicações de um pacto?
Os pactos englobam direitos e deveres, benefícios e responsabilidades. Os pactos feitos nos tempos bíblicos − e que dão suporte para muitas instituições encontradas na Bíblia como, por exemplo, o casamento – comportam as seguintes cláusulas.
1. Todo pacto tem proteção da lei.
O casamento é um pacto legal em duas instâncias: a divina e a humana. Deus, através da sua Palavra, esboçou as leis para reger o casamento dentro da instância divina. Há várias diretrizes, e você certamente conhece ao menos algumas delas. Veja a seguir alguns textos que regem um casamento.
Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne. (Gênesis 2.24)
Tanto a mulher não casada como a virgem preocupam-se com as coisas do Senhor, para serem santas no corpo e no espírito. Mas a casada preocupa-se com as coisas deste mundo, em como agradar seu marido. (1Corintios 7.34)
Mulheres, sujeite-se cada uma a seu marido, como ao Senhor, pois o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, que é o seu corpo, do qual ele é o Salvador. Assim como a igreja está sujeita a Cristo, também as mulheres estejam em tudo sujeitas a seus maridos. (Efésios (5.22-24)
Maridos, ame cada um a sua mulher, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se por ela para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra, e para apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável. (Efésios 5.25-27)
Da perspectiva de Deus, essas são algumas leis que garantem o bom funcionamento, o respeito mútuo e a liberdade daqueles que estão empenhados na composição e manutenção de um casamento, de uma história de amor.
Da perspectiva humana, o Estado também estabeleceu leis que dão segurança ao homem, à mulher e até mesmo aos filhos. Logo na decisão pelo casamento civil, o casal deve optar sobre o regime de bens e o sobrenome que a esposa adotará – e atualmente o homem também pode adotar o sobrenome da esposa. Isso tudo é amparado por lei com a finalidade de garantir à instituição do casamento o seu bom funcionamento, firmando os direitos e os deveres das partes envolvidas.
Mesmo assim, repito que o casamento no ambiente divino não é um contrato conforme é no âmbito humano e civil. O casamento na presença de Deus é um pacto, uma aliança, não um contrato.
2. Um pacto é um ato público, pois nos fala do peso da responsabilidade social.
Dietrich Bonhoeffer, um importante e conhecido teólogo alemão, disse certa vez:
O casamento não pertence apenas a vocês, é um símbolo social, uma função de responsabilidade.
O aspecto público do casamento é percebido, por exemplo, na cerimônia. São convocados os familiares dos noivos, os amigos, as testemunhas, a autoridade civil e a autoridade espiritual. Essa reunião é realizada com a finalidade de informar publicamente a disposição dos noivos em formar uma nova família. Eles se amam e estão dizendo isso em público: “Vamos nos pactuar em casamento e constituir uma família”.
Agora eles não serão mais vistos separadamente nos ambientes sociais, nas festas, nos cultos – eles se tornaram uma só carne. Não estarão mais à disposição para os amigos, se considerarmos as saídas só entre homens ou só entre amigas. Há diversas implicações envolvidas no casamento no que diz respeito ao seu caráter social. Os solteiros são privados de algumas atividades, e vice-versa. Até mesmo no futebol há a conhecida brincadeira de jogar “casados contra solteiros”. Os casados não jogam no time dos solteiros.
Quando preenchemos um cadastro, numa empresa ou no comércio, devemos indicar se somos casados ou solteiros. Isso tem uma razão de ser para o analista de crédito; a pergunta não está ali por um acaso.
Uma pessoa casada tem, portanto, sua representação e responsabilidade, tem o status social diferente da pessoa solteira.
3. Um pacto reúne forças e créditos antes separados
Lembra-se de que mencionei que os antigos pactos tribais eram celebrados entre comunidades diferentes? Nos tempos de Abraão, por exemplo, quando um líder tribal celebrava um pacto com outro chefe ou líder tribal, eles se consideravam unidos para sempre. Esses pactos colocavam as forças, os guerreiros, as riquezas, os bens de um líder à disposição do outro líder.
As alianças ou pactos eram celebrados entre famílias, tribos, etnias e comunidades com a finalidade de fortalecerem-se mutuamente. Elas melhoravam a condição de vida e ampliavam os recursos que as partes anteriormente separadas não poderiam usufruir. Com isso, cada comunidade ou família poderia avançar nas conquistas, estender seus domínios a outros territórios e, no dia da adversidade, elas teriam à sua disposição a aliança com um exército mais numeroso que o seu, o que por si já era um fator inibidor: ora, se o inimigo sabe que eu tenho aliança com outro exército mais forte que o meu, ele pensará duas vezes antes de atacar-me. O próprio Jesus falou isso:
Ou, qual é o rei que, pretendendo sair à guerra contra outro rei, primeiro não se assenta e pensa se com dez mil homens é capaz de enfrentar aquele que vem contra ele com vinte mil? Se não for capaz, enviará uma delegação, enquanto o outro ainda está longe, e pedirá um acordo de paz. (Lucas 14.31,32)
Semelhantemente, o casamento reúne as forças e recursos de um homem e de uma mulher, ampliando os benefícios e meios colocados à disposição de ambos. Sua força será maior com a realização de um bom casamento. Seus recursos serão ampliados. O afeto e o cuidado serão maiores. O amor existente será duplicado. Se você já ama a si mesmo, haverá outra pessoa que também o amará; se você tem um coração amoroso, poderá expressar esse amor a outra pessoa.
Como é bom o casamento!

PR. JOSUÉ GONÇALVES

Pr. Josué Gonçalves é terapeuta familiar, pastor sênior do Ministério Família Debaixo da Graça - Assembleias de Deus em Bragança Paulista – SP, bacharel em teologia, com especialização em aconselhamento pastoral e terapia de casais, exerce um ministério específico com famílias desde 1990.
Fonte: verdadegospel.com